As disfunções temporomandibulares (DTM), representam uma ampla gama de alterações funcionais e condições patológicas que afetam tanto a própria articulação, músculos da mastigação e em ultima instância, todos os outros componentes do sistema bucomaxilofacial. Nos últimos anos, as DTMs tornaram-se uma causa cada vez mais frequente e o numero de pacientes está crescendo, provavelmente devido à tensão psicológica na nossa sociedade. Desordens temporomandibulares tem multifatores etiológicos e um quadro clinico variado. De acordo com os conceitos psicofisiológicos aceitos, problemas oclusais e emocionais são os mais graves fatores. Em muitos casos os pacientes apresentam quadro assintomático, não os estimulando a procurarem tratamento, deixando assim, mais susceptíveis ao desenvolvimento de alterações morfológicas e funcionais irreversíveis.
Sintomas característicos das DTMs, são alterações na mobilidade (hipomobilidade ou hipermobilidade), além da existência de ruídos e estalidos.
Existem essencialmente dois tipos de tratamentos

  1. Conservadores: Utilização de dispositivos oclusais, exercícios de reabilitação, exercícios isométricos, massagem dos músculos da mastigação, farmacoterapia (AINE, corticosteroides, ansiolíticos, antidepressivos tricíclicos sem vasoconstritor, anestésicos locais), terapia de relaxamento, alongamento passivo e assistido, entre outros.
  2. Cirúrgico:
    Invasivo: aberta (existe também a artroplastia, aberto mas não tão invasivo)
    Minimamente invasivo: artrocentese, por exemplo.



Histórico
A artrocentese da ATM foi descrita por D.W. Nitzan em 1991, como a mais simples forma de terapia cirúrgica, com o objetivo de lavagem dos mediadores inflamatórios, liberando o disco articular e evitando aderências entre o disco articular e a fossa articular por pressão hidráulica.

O que é artrocentese da ATM
É um método de tratamento minimamente invasivo no limite entre a terapia conservadora e tratamento cirúrgico, que possibilita a aplicação de substâncias terapêuticas. Pode ser realizado tanto em regime ambulatorial com anestesia local, quanto em ambiente hospitalar com anestesia geral, que tem a vantagem de não ter interferência muscular e estresse.
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A mobilidade do disco é mais importante que a sua posição, pois a articulação sem travamento tem boa capacidade de movimentação, preservando a lubrificação da ATM e evitando processos degenerativos. Tem também como objetivo a manipulação do côndilo sob irrigação continua e introdução de medicamentos. É um procedimento simples e com número mínimo de complicações, que pode ser realizado mais de uma vez. Por esta razão tornou-se muito difundido no tratamento das DTM. A resolução dos sintomas é devido à remoção dos mediadores químicos da inflamação e alterações na pressão intra-articular.
Indicações

  • Deslocamento anterior do disco sem redução
  • Aderência do disco
  • Dor relacionada com artrite traumática
  • Travamento devido ao deslocamento do disco articular
  • Dor relacionada com artrite degenerativa da ATM

Vantagens

  • Procedimento pouco invasivo
  • De baixo risco
  • De fácil execução

Porque a artrocentese é bem sucedida?

  • Porque aumenta a mobilidade do disco articular
  • Elimina aderências
  • Elimina produtos inflamatórios na ATM e dispersos no liquido sinovial.

Descrição do Procedimento
artrocenteseA técnica inicia-se pela marcação de 2 pontos na pele, sobre a articulação afetada, que indicam a fossa e a eminência articulares da ATM. Primeiro desenha-se uma linha do centro do tragus ao canto externo do olho (linha de Holmlund). O ponto de inserção posterior é localizado ao longo desta linha traçada, dita canto-tragal, 10mm a frente do meio do tragus, e 2mm abaixo da linha, e corresponde aproximadamente à área de maior concavidade da fossa glenóide. A distancia da pele para o centro do espaço articular fica entorno de 25mm. O ponto mais anterior é localizado 10mm à frente do ponto posterior (ou a 20mm do centro do tragus), seguindo a linha canto-tragal ou a 10mm abaixo dela.
Paciente é colocado em uma posição de 45° com a cabeça virada para o lado não afetado para facilitar o acesso a articulação. Após a antissepsia e tricotomia, é realizado o bloqueio do nervo auriculotemporal (sob anestesia local). Insere-se a primeira agulha e são injetados de 2ml a 3ml de solução de Ringer lactato para distender o espaço articular. Outra agulha é introduzida na área correspondente à eminência articular, para permitir um fluxo livre da solução através do compartimento superior. A solução é conectada a uma das agulhas e o frasco com a solução RL é elevado a 1m do nível da articulação (pressão), com fluxo livre de 200ml, durante 15 a 20 minutos. Durante o procedimento, são realizadas diversas tentativas de abertura de boca, até o restabelecimento da abertura máxima. Ao término do procedimento, injeta-se 1ml de Celestone® no espaço articular e em seguida remoção das agulhas.
Em suma, a artrocentese da ATM é um procedimento minimamente invasivo que possibilita a lavagem e remoção dos mediadores inflamatórios liberando o disco articular. Levantando a questão se será absolutamente necessário à reposição do disco na sua posição original, uma vez que a dor e a limitação de abertura bucal foram resolvidos na maioria dos casos.





Referências 
Nitzan DW, Dolwick F, Martinez GA. Temporomandibular Joint Arthrocentesis: A Simplified Treatment for Severe, Limited, Mouth Opening. J Oral Maxillofac Surg. 1991.
Nitzan DW. Arthrocentesis – Incentives for Using This Minimally Invasive Approach for Temporomandibular Disorders. Oral Maxillofac Surg Clin North Am. 2006.
Gonçalves PP. Utilização da Artrocentese em Pacientes Portadores de Desarranjos Internos Sintomáticos da Articulação Temporomandibular – Análise dos Resultados Clínicos, UNIGRANRIO Duque de Caxias. 2012

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