O ser humano é muito complexo, desde sua composição básica (células → tecidos → órgãos → sistemas) até sua inserção no meio onde vive.

Sua capacidade em manter a estabilidade interna e/ou suas condições estáveis é chamada de homeostase, termo de origem grega (homois – semelhante e stasis – equilíbrio).
Mas já parou para pensar por que e como a homeostase acontece? Quais os elementos essenciais para tal? Qual a importância do seu conhecimento por parte do cirurgião-dentista? Pois bem, são perguntas muito importantes e que devem serem levadas muito em conta antes de qualquer procedimento odontológico.

Para entendermos sobre o assunto, vamos falar dos principais coadjuvantes da homeostase: elementos-traço.

O que são elementos-traço e qual sua importância na odontologia?

Sabemos que para a homeostase (equilíbrio) muitos processos internos acontecem, seja orgânicos e/ou inorgânicos. Por muito tempo acreditou-se que nos seres vivos, por conta de sua composição, somente os elementos e compostos orgânicos eram indispensáveis para a vida, e os comumente chamados de inorgânicos eram dispensáveis.

Contudo, agora sabemos que mesmo em baixas concentrações, os elementos e compostos inorgânicos são de grande valia no que diz respeito ao balanceamento dos processos fisiológicos e metabólicos nos seres vivos.

Sendo assim, os elementos-traço (chamados de traços pela sua baixa concentração) são um conjunto de elementos inorgânicos que, juntamente com os orgânicos, são indispensáveis para o equilíbrio da vida.

A falta desses elementos é responsável por várias desordens fisiológicas e patológicas que podem atrapalhar muito durante um procedimento odontológico ou no planejamento.

Partindo desse pensamento, não é muito difícil perceber sua importância na odontologia e de seu conhecimento por parte do cirurgião-dentista. Deficiência no crescimento dental e de tecidos adjacentes, cicatrização de feridas cirúrgicas, falha na resposta imunológica, alteração dos sentidos, entre outras desordens, são grandes exemplos da quebra desse equilíbrio interno.

Como os elementos-traço estão divididos e como podem ser encontrados?

elementos essenciais

Muitos elementos-traço já estão presentes e abundantes do organismo humano, já outros são adquiridos através de uma alimentação saudável.

Quais as principais funções dos elementos-traço?

Entre as principais estão:

  • Através de proteínas específicas que contenham Fe ou Cu, transportam e ativam moléculas de oxigênio;
  • Utilizados pelos sistemas para transportes de elétrons;
  • Participam de processos de oxirredução (reações de oxidação e redução);
  • Participam como elementos centrais em reações catalíticas;
  • Participam como elementos centrais em reações ácido-base;
  • Função estrutural nos diversos sistemas biológicos.

Quais os principais elementos-traço e suas patologias importantes na odontologia?

A falta de elementos-traço são responsáveis por diversas patologias e/ou desordens, como:

Ferro (Fe): anemias, problemas de toxidez, problemas de absorção e desordens nos tampões biológicos, aftas;

Zinco (Zn): falhas nos processos catalíticos do tipo ácido-base, deficiências no crescimento, deficiência na cicatrização, deficiência na resposta imunológica, desordens emocionais, problemas relacionados com o paladar, leucopenias, halitose;

Cobre (Cu): falha em processos enzimáticos, podem ou não estar relacionadas a desordens como tumores cancerígenos, doença de Menkes, dificuldade na atividade anti-inflamatória e antiulcerosa;

Magnésio (Mg): irritabilidade, impaciência e intolerância à ruídos e barulhos repetitivos, contrações musculares frequentes, dificuldade para dormir, alterações no sistema imunológico, alterações no transporte da membrana celular (o que pode dificultar a anestesia), alterações na permeabilidade vascular, má regulação no ritmo cardíaco, alterações na agregação plaquetária, má formação de dentes e ossos (em conjunto com o Ca);

Cromo (Cr): dificuldade no funcionamento das rotas metabólicas associadas a carboidratos e lipídeos, pode ou não estar relacionado com diabetes;

Vanádio (V): pode ou não estar relacionados à diabetes;

Selênio (Se): associado com desordens nos mecanismos de defesa celular frente ao ataque por radicais livres, doenças cardíacas, problemas nas articulações e estrutura óssea;

Cobalto (Co): relacionado a anemias, quadros de fadiga, dores na língua e desordens hematológicas (diminuição de eritrócitos);

Cálcio (Ca): câimbras, pressão arterial elevada, fraqueza de ossos e estruturas dentais, problemas na contração muscular, ansiedade, irritabilidade, periodontite, artrite, cárie, inchaços mais frequentes;

Flúor (F): alta atividade cariogênica, enfraquecimento da estrutura dental, piorreia, suscetibilidade a infecções, problemas renais frequentes, língua escura;

Sódio (Na): náuseas, azia, dores de garganta frequentes, xerostomia, enrijecimento de artérias, erupções na pele;

Potássio (K): náuseas frequentes, fraqueza, palpitação cardíaca, câimbras, alterações no sistema nervoso;

Iodo (I): memória fraca, saliva fétida, paciente relata sensação de gosto gorduroso na boca, descamação da pele, falta de ar constante;

Cloro (Cl): problemas renais frequentes, possíveis problemas ósseos, fraqueza, ansiedade;

Zinco (Zn): alterações no sistema imunológico, dificuldades de cicatrização, alteração no paladar, alteração de crescimento, aumento dos níveis de glicose no sangue, dificuldade de restauração do tecido gengival, suscetibilidade a infecções, anorexia.

Sem sombra de dúvidas, todo e qualquer conhecimento por parte do cirurgião-dentista frente à homeostase do indivíduo é de extrema importância para o sucesso do procedimento odontológico.

Com o domínio dos elementos-traço, você será capaz de planejar um adequado atendimento, respeitando as limitações ou liberdade específica para cada procedimento.

Desordens causadas pela insuficiência de elementos-traço são capazes de complicações durante processos de anestesia, da execução de procedimentos e na própria terapêutica adotada pelo profissional.

Autor: Robson Diego Calixto, acadêmico do curso de odontologia pelo Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE.
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Referências Bibliográficas
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GUYTON, A. Tratado de Fisiologia Médica. 11.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
LEHNINGER, A. L. Princípios de Bioquímica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.

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