Nos últimos anos, a harmonização facial se tornou um dos tratamentos estéticos mais procurados, revolucionando a forma como encaramos beleza e rejuvenescimento. Entre as técnicas mais populares desse universo, a aplicação da toxina botulínica — conhecida como Botox — se destaca por sua versatilidade e eficácia.
Traremos uma série de posts falando tudo sobre Botox, ácido hialurônico, técnicas de preenchimento, diluição e muito mais.
Vamos começar?
Nesse post você vai encontrar:
- Origem e história do botox
– curiosidades;
– uso médico;
– uso estético; - O que sabemos sobre a toxina hoje
– diferentes tipos;
– principais marcas comerciais e suas apresentações;
– indicações;
– contra-indicações relativas;
– contra-indicações absolutas;
– possíveis interações medicamentosas;
– possíveis interações com vacinas.
1. Origem & história
A Toxina Botulínica já foi considerada uma arma biológica. Final do século XVIII durante
as guerras napoleônicas, foi percebido a ligação da ingestão de alimentos embutidos e a
aparição de alguns sintomas, porém sem entender a etiologia.
Naquele período, o professor alemão Johann von Autenrieth, deu o nome dessa condição de “doença das linguiças” e descreveu alguns sintomas que ela causava como por exemplo a diplopia (visão dupla), visão turva, dificuldade para engolir, desconfortos gastrointestinais, paralisia dos nervos cranianos e fraqueza muscular.
Justinus Kerner, médico, também contribuiu para o maior entendimento sobre o agente causador desses sintomas. Kerner publicou em 1817 o primeiro caso de forma detalhada sobre um caso de botulismo e desde então passou publicar outros casos e também a estudar à fundo o tema. Além da descoberta da interrupção da transmissão motora do sistema nervoso, ele também sugeriu o potencial terapêutico da toxina botulínica.
Em 1895, o bacteriologista e professor belga Emile van Ermengem, descobriu o agente
causador da doença, a bactéria Clostridium Botulinum, inicialmente chamada
de Bacilos Botulinum.
Curiosidade: O nome “botulismo” provém da palavra “botulus”, do latim medieval que significa “salsicha”, já que a contaminação estava frequentemente associada a alimentos em conserva, como as salsichas.
Uso médico: Na década de 70, Edward Schantz conseguiu isolar e filtrar a toxina botulínica de uma forma segura e com caráter terapêutico. Alan Scott, oftalmologista, foi o pioneiro em tratar pacientes de estrabismo com a toxina.
Uso estético: A descoberta para uso estético foi por acaso, quando o casal Jean e Alastair Carruthers, na década de 1980, perceberam a melhora na aparência das rugas em pacientes que tratavam estrabismo com a toxina botulínica. Em 1987, a primeira paciente do casal a ser testada com a aplicação de toxina botulínica estética foi a secretária do consultório, obtendo ótimos resultados e reafirmando aquilo que já tinha sido notado. Em 1989 a Allergan* foi a primeira empresa farmacêutica a patentear e fabricar o que conhecemos hoje de Botox, se tornando a primeira marca e uma das principais até hoje de toxina botulínica.
2. O que sabemos sobre Toxina Botulínica hoje?
É uma toxina produzida pela bactéria Clotridium botulinum, a causadora do botulismo.
Possui alta potência e toxicidade, atua nas porções terminais nervosas dos músculos, causando paralisia.
Para se ter ideia, 1U é a dose necessária para causar morte de uma rato que pesa 20g.
E em um ser humano de 70 kg, seriam necessárias de 3.000 a 5.000U.
Em um tratamento estético convencional de toxina botulínica é usado em média 50U.
É como a famosa frase de Paracelso: “a diferença entre remédio e veneno está na dose”
Diferentes tipos de toxina botulínica
Tipos de toxina: A, B, C1, D, E, F, G, H
Que causam botulismo: A, B, E, F, H
Utilizadas na estética e terapêutica: A e B
Principais marcas comerciais e suas apresentações
BOTOX (50U / 100U / 200U)
DYSPORT (300sU / 500 sU)
XEOMIN (100U)
NABOTA (100U)
BOTULIFT (50U / 100U / 150U / 200U)
PROSIGNE (50U / 100U)
BOTULIM (50U / 100U / 200U)
* Xeomin é única marca que não precisa de refrigeração até antes de reconstituir o
produto, porém depois de reconstituída, precisa de refrigeração assim como as outras
marcas.
Indicações
– Alguns descritos em bula:
Estrabismo, Blefaroespasmos, espasmo hemifacial, distonia cervical, hiperidrose das
axilas/das palmas das mãos, dor de cabeça crônica, incontinência urinária, linhas
glabelares, rugas periorbiculares.
– Indicações off label (não estão em bula mas são feitas de forma segura e baseada em
estudos científicos):
- disfunção temporomandibular (DTM)
- bruxismo
- apertamento dentário
- distonia oromandibular
- sialorréia (produção excessiva de saliva)
- nevralgia do Trigêmeo
Contra-indicações relativas:
- doença neuromuscular associada (miastenia gravis, esclerose lateral amiotrófica);
- pessoas que necessitam da expressão facial (cantores, músicos, atores);
- coagulopatias associadas ou descompensadas;
- doença autoimune ativa, uso de aminoglicosídeos até 1 mês antes do procedimento
(potencializador).
Contra-indicações absolutas:
Gravidez e lactação, alergia conhecida ao medicamento ou aos seus componentes,
expectativa irreal do paciente, infecção no local de aplicação, instabilidade emocional do
paciente.
Possíveis interações medicamentosas:
Aminoglicosídeos, anti-reumáticos e bloqueadores neuromusculares
Possíveis interações com vacinas:
– Vacina antitetânica (ter intervalo de 6 meses antes ou depois do procedimento);
– Vacina do COVID-19 e qualquer outra vacina (ter intervalo de 2 semanas antes ou depois
do procedimento)
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Referências:
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Autora
Dra Giovanna Marques | CROPR 32.802 | CROSP 141.062
Cirurgiã dentista pela Universidade Positivo (Curitiba/PR)
Especializanda em Harmonização Orofacial pela Let’s HOF (São Paulo).