O preparo biomecânico dos canais radiculares é realizado através da instrumentação, complementada pela irrigação e sucção, com soluções anti-sépticas nos casos de necropulpectomias, e/ou com função de limpeza mecânica, nas biopulpectomias.
Conclui-se então, que a instrumentação complementada pela irrigação, sucção e inundação de substâncias ou soluções irrigadoras constitui um processo único, simultâneo e contínuo.
Quais são os momentos da irrigação?
- Antes da instrumentação:
BIOPULPECTOMIA: penetração mecânica asséptica ao interior do canal radicular
NECROPULPECTOMIA: neutralizar parcialmente produtos tóxicos e restos orgânicos, antes de sua remoção mecânica (penetração desinfetante)
- Durante a instrumentação:
Manter úmidas as paredes do canal, favorecendo a instrumentação
- Após a instrumentação:
Remover detritos mecânicos, evitando seu acúmulo sobre o coto pulpar ou tecidos periapicais
Objetivos da irrigação:
- eliminar restos pulpares, sangue e raspas de dentina;
- eliminar flora bacteriana;
- umedecer e lubrificar as paredes facilitando a instrumentação;
- remover a camada residual ou smear layer;
- diminuir a tensão superficial das paredes do canal radicular
Quais são os requisitos para uma solução irrigadora?
- dissolver tecidos
- poder bactericida
- permeabilidade dentinária
- biocompatibilidade
- hidrossolúvel – limpeza
As soluções mais utilizadas em endodontia são:
Compostos halogenados
- Solução de hipoclorito de sódio a 0,5% (Líquido de Dakin).
- Solução de hipoclorito de sódio a 1% (Solução de Milton – Lab. Lepetit S.A.).
- Solução de hipoclorito de sódio a 2,5% (Solução de Labarraque).
- Solução de hipoclorito de sódio a 4-6% (Soda clorada duplamente concentrada).
O cloro exerce uma função antibacteriana sob a forma de ácido hipocloroso não dissociado. Em solução neutra ou ácida, o ácido hipocloroso não dissocia, exercendo uma acentuada ação bacteriana. Essa ação ocorre por oxidação da matéria orgânica, quando o cloro substitui o hidrogênio do grupo das proteínas.
Hipoclorito de Sódio: Detergente, necrolíltica, antitóxica, bactericida, desodorizante, dissolvente e neutralizante.
Propriedades:
- Baixa tensão superficial.
- Neutraliza parcialmente os produtos tóxicos.
- Bactericida.
- Favorece a instrumentação.
- pH alcalino.
- Dissolvente.
- Desidrata e solubiliza as substâncias protéicas
- Ação rápida.
- Dupla ação detergente.
- Não irritante.
Indicações:
- Soluções de hipoclorito de sódio a 2,5%
- Neutralização parcial dos produtos possibilitando penetração imediata aos canais radiculares, em casos de necro II.
- Durante o desbridamento foraminal (“patência apical”) em casos de necro II.
- Como coadjuvante do preparo biomecânico dos canais radiculares de dentes despolpados e infectados em casos de necro II.
- Durante a remoção de obturações parciais do canal radicular.
- Soluções de hipoclorito de sódio a 0,5% (Dakin) e/ou 1,0% (Milton)
- Na neutralização do conteúdo séptico pulpar, nos casos de necro I.
- Como coadjuvante do preparo biomecânico.
- Nos casos de desbridamento foraminal em dentes despopados com processos periapicais agudos.
Solução de Clorexidina
A solução de clorexidina (CHX), em diferentes concentrações, na forma de sal, seja gluconato, acetato ou hidrocloreto, vem sendo utilizada como anti-séptico bucal, em forma de bochechos, irrigação sub-gengival, géis, dentifrícios ou chicletes, desde a década de 505. Foi utilizada pela primeira vez em Odontologia em 1959, sob a forma de bochechos de gluconato de clorexidina.
Propriedades
- Ação complementar ao uso do hipoclorito de sódio.
- Reduz a quantidade de S.mutans, altamente sensíveis a este agente.
- Pode ser usada por longos períodos, sem que ocorram mudanças nos parâmetros hematológicos e bioquímicos do sangue.
- Graus extremamente baixos de toxicidade, tanto local quanto sistêmica.
- Amplo espectro de ação contra bactérias G+ e G-.
- Capacidade de adsorção aos tecidos bucais e superfícies mucosas.
- Liberação gradual, prolongada e em níveis terapêuticos (substantividade), de até 72 horas após o preparo biomecânico, quando é utilizado o gluconato de clorexidina a 2% como solução irrigadora.
- Biocompatibilidade
A grande afinidade da clorexidina a 2% pelas bactérias, provavelmente deve-se ao fato de uma interação eletrostática entre a molécula da mesma, que é carregada positivamente, e a parede celular bacteriana, com grupos carregados negativamente. Isso faz aumentar a permeabilidade da parede celular bacteriana, permitindo a penetração da clorexidina no citoplasma do microrganismo, ocasionando sua morte.
Detergentes sintéticos
São substâncias químicas semelhantes ao sabão e, portanto, baixam a tensão superficial dos líquidos. Desempenham a ação de limpeza, penetrando em todas as reentrâncias e canalículos do canal radicular, fazendo com que os restos orgânicos e microrganismo fiquem suspensos e sejam removidos por nova irrigação e sucção.
Indicações:
Indicados somente em casos de biopulpectomia, pois além de serem inócuos aos tecidos vivos, preservam a vitalidade do coto periodontal apicais e remanescentes laterais, que se constituirão na matriz de uma possível mineralização.
Quelantes
Os quelantes apresentam radicais livres na extremidade de suas moléculas que se unem aos íons metálicos do complexo molecular ao qual se encontram entrelaçados, fixando-os por união coordenada que se denomina quelação.
A quelação é, portanto um fenômeno físico-químico pelos quais certos íons metálicos são seqüestrados dos complexos de que fazem parte sem constituir numa união química com a substância quelante, mas sim numa combinação. Este processo repete-se até se esgotar a ação quelante.
O ácido etilenodiaminotetracético, o EDTA, é um quelante específico para o íon cálcio e, consequentemente, para dentina.
Indicações:
As soluções quelantes são indicadas como auxiliares no preparo biomecânico de canais atresiados ou calcificados, não sendo indicadas como solução irrigadora. Inócuos aos tecidos periapicais, os quelantes são indicados tanto em casos de biopulpectomia como necropulpectomia, sendo utilizado como toilete final com o objetivo de remover a camada residual (“smear layer”).
Quando a solução de EDTA foi deixada por 1 minuto, associado ao NaOCl a 5%, houve remoção da camada residual, não interferindo na estrutura dentinária. Porém, quando deixada por 10 minutos, a solução de EDTA, associada ao NaOCl a 5%, além de remover a camada residual, promoveu uma erosão peritubular e intertubular, acarretando num aumento do diâmetro do túbulos dentinários.” Çalt et al. 2002.
Muito bom, é tudo que a professora Laís explicou em sala. Gostei !!!!
maravilho
Muito bom mesmo. Os erros de português incomodam um pouco, mas de toda forma, obrigada pelo conteúdo!