Se um paciente oncológico vai até o seu consultório/clínica apresentando um grau de mucosite, relatando dor e incomodo, você saberia como resolver sem questionar se está fazendo certo ou não?
Esse artigo vai ajudar você a definir um tratamento e orientar seu paciente quando o assunto for mucosite. Veja o que esse conteúdo tem e se prepare para ser um profissional de destaque.
Vamos lá?
A mucosite é uma reação tóxica inflamatória que pode ocorrer por exposição a
agentes quimioterápicos (quimioterapia) ou radiação ionizante (radioterapia). Na cavidade oral, esta toxicidade sobre as células epiteliais leva à descamação em função do atrito presente na boca. Como a reposição celular está comprometida devido ao tratamento oncológico, ocorre exposição do tecido conjuntivo subjacente onde se localizam vasos sanguíneos, vasos linfáticos e feixes nervosos; desencadeando dor intensa, ulcerações,
dificuldade de alimentação e fala.
A mucosite normalmente é transitória e os pacientes recuperam-se espontaneamente no primeiro mês após encerramento do tratamento. Entre as manifestações da mucosite, a ulceração é a mais importante, constituindo-se em uma verdadeira porta de entrada para infecções bacterianas e determinando em alguns casos, a suspensão do tratamento radioterápico. A associação da radioterapia com quimioterápicos produz um efeito sinérgico, potencializando a severidade das alterações inflamatórias da mucosa oral.
Outro fator agravante para a mucosite oral é a susceptibilidade à infecção por microrganismos normalmente presentes na cavidade bucal que são oportunistas e invadem os tecidos lesados, como as leveduras do gênero Cândida que aumentam sua colonização durante a radioterapia.
Fisiopatologia da mucosite
O modelo biológico do desenvolvimento da mucosite é descrito em cinco fases:
- Fase de Iniciação: é a fase assintomática em que ocorre lesão direta no DNA das células basais do epitélio e o aparecimento de radicais oxidativos.
- Fase de Sinalização: às enzimas podem ser ativadas diretamente pela radioterapia e quimioterapia, ou indiretamente pelos radicais oxidativos formados na fase anterior, induzindo a apoptose (morte celular programada).
- Fase de Amplificação: ocorre uma série de ciclos retroalimentados, aumentando ainda mais a injúria celular em virtude da produção exacerbada de citocinas inflamatórias.
- Fase ulcerativa: caracterizada pela perda da integridade da mucosa, promovendo porta de entrada para bactérias, fungos e vírus, acompanhada de sintomatologia dolorosa.
- Fase de cicatrização: observa-se proliferação, diferenciação e migração das células epiteliais, além da restauração da integridade da mucosa.
Quando se entende o desenvolvimento da mucosite e seus aspectos histológicos, você naturalmente entenderá sua classificação clínica e o grau que aquela lesão se encontra, veja só:
Classificação Clínica da Mucosite
Grau 1: Áreas Eritematosas (paciente consegue comer alimentos sólidos);
Grau 2: Áreas Ulceradas com pseudomembranosa (alimentos pastosos);
Grau 3: Extensas áreas pseudomembranosas (somente alimentos líquidos);
Grau 4: Áreas ulceradas com crostas hemorrágicas (não consegue comer).
Recomendações para o Tratamento da Mucosite
Há vários estudos que mostram tratamentos efetivos e paliativos, veja os que listamos:
Laserterapia de baixa intensidade 660nm
Analgesia: que tem efeito direto nas terminações nervosas, assim reduzindo a velocidade da condução e liberação de neurotransmissores.
Inflamatória: aumento de mastócitos, leucócitos e inibição da bradicinina inibição da expressão da ciclo-oxigenase (cox 2).
Reparo tecidual: Proliferação de queratinócitos, fibroblastos, Aumento da velocidade de reepitelização, angiogênese e secreção de colágeno.
Crioterapia
A aplicação do gelo na mucosa ou bochecho com agua gelada durante a administração dos fármacos (quimioterapia), promove um arrefecimento da temperatura que conduz a vasoconstrição e consequentemente a diminuição da circulação do fármaco na mucosa oral. Desta forma, impede que o agente quimioterápico chegue aos tecidos bucais em grandes quantidades, reduzindo a toxidade local e gravidade do dano a mucosa.
- Bochecho com Morfina 2% e Chá de camomila (efeito anti-inflamatório): serve como tratamento de suporte e alivia sintomatologia dolorosa.
- Fluconazol: antifúngico da família dos triazólicos e pode ser usado quando tem candidíase associada a mucosite. Esse fármaco é bem aceito pelos pacientes pelo gosto agradável.
Tratamento Subjetivo:
Os anestésicos tópicos podem minimizar a dor temporariamente em casos de mucosite de pouca gravidade (graus 1 e 2). A anestesia tópica é uma escolha óbvia para uma ação paliativa da dor pela mucosite e com mínimas consequências sistêmicas. Os agentes mais utilizados são a lidocaína e a benzocaína. Porém, possuem curto tempo de duração (aproximadamente 30 minutos), interfere no paladar, reduz os estímulos salivares e facilita a aspiração de alimento ocorrendo afogamento.
Tratamento não recomendado:
Bochechos com Digluconato de Clorexidina já foi muito utilizado em tratamento para mucosite, hoje os estudos mais recentes não indicam clorexidina por provocar ardência oral e digeusia (diminuição ou distorção do paladar). Além disso, temos outros métodos mais eficazes para o tratamento da mucosite, como falamos acima.
Com esse material você já se sente preparado para diagnosticar, tratar e orientar seus pacientes? Mesmo que não sejam casos frequentes no dia a dia clínico, saber o que fazer quando se deparar com um, te diferencia dos demais profissionais.
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REFERÊNCIAS
BVS-Santos, Paulo Sérgio da Silva; Messagi, Ana Cristina; Mantesso,
Andrea; Magalhães, Marina Helena Cury Gallotini- Oral Mucositis:
Recent Perspectives On Prevention and Treatment (RGO).
Morais, Teresa – Silva, Antônio. Livro: Fundamentos da Odontologia
em Ambiente Hospitalar/UTI 2015.
Scielo- Prevenção e Tratamento da Mucosite em Ambulatório de
Oncologia: uma construção coletiva 2016.
Referência da imagem: http://falandosobrecancer.com.br/mucosite-pos-quimioterapia/
Autor: Dra. Jiane Gilliet Beira, Cirurgiã-Dentista, Universidade Positivo.